Thursday, September 26, 2013

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Gaia dança com as salamandras



De cabeça prá baixo, 
rodando, 
nadando 
dentro da terra
(no coração da terra)
pegando fogo
(no coração da terra)
Do meu clitóris ao topo da minha cabeça inaugura-se nova cervical
esse corpo duro com um pedaço de pedra,
esse corpo duro como um pedaço de pau
esse corpo duro que se alastra e estica como raiz, num subsolo de movimento fluido, marrom e vermelho.
Estou na entranha da terra, pegando fogo.
(comendo a terra)
Sendo a terra,
abrindo as pernas,
arregalando os olhos
cravada como chumbo no magma primeiro da Terra:
Ocupada em querer parir um mundo novo.


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Monday, September 16, 2013

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Zzzzzz


Quando eu era abelha e tinha que fazer mel, eu queria mesmo era ser cobra-coral, lançar veneno, ser ardilosa, bicho de terra.
Agora eu continuo abelha 
mas
descobri
que
as abelhas voam e tem um ferrão...
Um ferrão de mel ! (pasma)

É, dei asas prá minha cobra.


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Quando fui homem

Eu via um raio de sol correndo atrás de um grande lobo.
E era noite.
Perdi os óculos que o ampliavam.
Perdi a bússola e segui em direção aos meus pés.
Perdi-me do tempo dos relógios de escritório.
Bóio, então, em uma bacia sem ponteiros, 
em um tempo-espaço diminuto, de minuto, de mim, puto.


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Wednesday, September 11, 2013

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Mundeu, Mundutú.
Seja as idéias que você defende.
Esforce-se para amar na medida do teu verbo.
Corporifique a doutrina dos livros que aprecia.
Porque só há um jeito de viver: sendo.
Generosidade é uma palavra bonita e complexa.
Há uma vida inteira para exercitar-se.
Queira envelhecer tentando mudar essa imagem inicial precária,
razoável,
des-humana.
Humús Erectos: todo ser é fecundo!
Gemine.
E queira olhar tão para dentro de si e do mundo,
que talvez,
chegue ao ponto,
de um dia,
Sê-lo.


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Friday, September 06, 2013

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Não estou filiada à isso. 

Não gosto, não quero.
Não curto. Não compartilho. 
Eu acredito pouco 

ou quase nada nisso.
Não me convence, 

não desce, 
não sobe, 
não gira.
Porque não sigo nada, eu só caminho.
Eu sou careta, 

eu acredito em livros, em criatividade.
Eu quero inventar uma máquina de sinceridades
Ou uma bomba anti-falsete

e jogá-la bem no seu quintal.
Sê-já! (E não pense que SER será o tempo todo divertido)

Eu sou de mergulhos, não de saltos.



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Thursday, September 05, 2013



                                                  (Foto: Biel Machado)
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Silêncio, é alto-mar.
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escuta o rabo do peixe pentear o íntimo da água.
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Silêncio, é azul-turquesa.

escuta a pérola geminando na ostra
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escuta a música que conduz o movimento do polvo 
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~~

escuta a luta entre o peixe espada e o tubarão
~~~~~ (x) ~~~~

escuta.

(.Psiu.)

Agora escuta o fundo do mar e o fundo de si, numa sinfonia aritmica.
escuta o descompasso, a pausa, o des-ostinato.

(Escuta o som que bóia no silêncio das águas)

São Ofélias sinfônicas.


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Tuesday, September 03, 2013


A volta do Peixe-Serpentina



Serpente na estrada
Areia movediça

quando mais atola

Mais a serpente atiça.

Cinco mango-di-réis

Sete flechas ao sol,

E um choro de ave agourenta
fisga o anzol onde o peixe sumiu
Seu Zé tá pescando
carangueijo num rio
E não se espante
quando o rio tá em dia de mangue.
Nem mais um piu: 
(shhhh) Escuta o som da vara na lama
(berrando) Corre! Chama benzedêra Dona Filó!
Que em caso de mangue e atolêro
Só uma cruz desata o nó.
E depois de benzito, bento tá.

Óia, minina... Óia minina (zóio marejado)

Óia a piscina de rio

Brotando os peixe à dançá.

E Óia minina...Óia minina (zóio dançando com os peixe)

Óia que o sertão vai virá mar.

Reza um credo prá Dona Filó

Agradece prá essa sinhá

E Tira a roupa do varal

(Que o sertão vai virá Mar)