Tuesday, December 17, 2013

Imagem: Rafael Bouças


Delicadezas feitas à mão
(para o amigo Rafael Bouças)

Nas bolsas dos olhos do Bouças: Água.
Peixes, espécies raras, habitat natural.
Nas bolsas dos olhos de Bouças: revelador líquido fotográfico.
Lentes, armação de óculos e um captador de imagens sólidas.
Não entendo como isso é possível 
Uma vez que Bouças cuida - em seu apartamento - de dois leões
(um mora no sol e o outro atrás dele)
E os leões não sabem nadar.

Se ando pela rua e Bouças cochicha,

mudamos a rota,
da caminhada amistosa.
Ele conta sobre os leões dele
Eu conto sobre o meu.
O meu vive equilibrando em uma balança de isopor
E tem um ferrão no rabo.
Os leões dele vestem veludo gasto violeta
E a juba é de ouro em pó.
Eu assopro a juba dos leões dele
E danço dourada nas ruas de Ouro (Preto).

Sob nossos pés, 

os peixes das bolsas dos olhos de Bouças.
no alto-mar de pedra sabão.

Mais um cigarro.

As nossas delicadezas são feitas à mão
(à base de nicotina e alcatrão)



Tuesday, December 10, 2013

F(ardo) cigana.

Travesseiro de cactus
onde a cigana repousa.
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Lá dentro do corpo
um espinho cativo tenta acariciar a intro-pele vidente.
De fora, a maciez e o alívio do cacto visível.
(Espinho previsível)

Prevendo a morte e a vida.
Prevendo a queda e a subida.
Doente de tanto sonhar.
Na palma da mão:
todas as linhas,
todas as minhas,
pequenininhas,
fagulhas do quase.
O fardo da cigana
é não ter mãos
para
ser
a
própria
profecia.
As ciganas são mulheres do futuro.