Friday, September 26, 2014

Efemeridades da última semana, chegou a primavera e eu aqui florindo poema.
Com tantos compromissos e trabalho, dá uma vontade ser flor...


A saia dela não passava de uma cortina das pernas.
Mas o sorriso era a janela.
A pele de porcelana preta,
e a mão-cabideiro do queixo.
Pensava longe,
dois pães de queijo nos olhos.
Peitos de parapeitos.
Era uma namoradeira mineira.
(Dessas que ficam na janela a semana inteira).
"O que que a baiana tem?"
Ora, faça-me o favor.
A saia da namoradeira baiana é moderna.
Gira igual ventila-dor.
(T.C)



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ELES VÃO MUDAR O MUNDO

A juventude mais careta do Brasil está aqui.
Ocupar e intervir no espaço urbano é vandalismo prá essa manada que canta em uníssono . Eles querem mudar o mundo marginalizando a expressividade de quem é diferente deles.
Não curtem gay, nem feminista, nem negro, nem ninguém. Não curtem nada além do próprio quintal.
Fodem a cidade jogando pacote de Rufles na calçada.
Fodem a cidade e não usam camisinha.
Fazem churrasco sangrento na cachoeira, metem óleo e farofa e lata de cerveja dentro d' agua e riem de quem vai lá nadar nu.
Gay prá eles é veado, gente que dá o cú ou cola velcro: tem de atropelar na rua!
Feminismo pra eles é coisa de mulher mal comida.
O abuso sexual para essa gente é uma categoria de Carinho.
Eles vão mudar o mundo!!
E vão nos internar em seus manicômios,
Vão nos foder dentro de seus sistemas carcerários.
E aos poucos,
e enfim,
vão trocar a própria bunda
por um par de meias antiderrapantes.
A juventude careta quer ser perfeita.

(T.C)


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Receita para uma escrita acadêmica

Para cada 2 horas de escrita acadêmica,
coma dois poemas.
(ou entre em coma)
Coma poemas pequenos, mas profundos.
Miúdos, ingênuos, beirando a bobeira, mas avassaladores.
(O tempo corre, você tem os prazos, escolha poemas pequenos, mas profundos)
Para cada citação que procurar na penca de livros ao lado do notebook,
olhe pela janela, fresta, ou um detalhe estranho e novo no azulejo da casa.
(escrever na varanda pode ajudar neste exercício)
observe de longe as casas velhas, o morro, talvez o Pico do Itacolomy.
observe o sol, caso haja sol neste dia.
observe o caminho que a névoa faz nos morros mais longínquos.
(A névoa está sempre em movimento)
Pense em coisas bestas enquanto dá os espaçamentos, tabulações, correções ortográficas, layouts, normas de ABNT.
(Sugestão de pergunta besta: "será que hoje vai chover?")
Pode ser que você, com estas pausas,
não termine o projeto,
o artigo,
o relatório,
o análise crítica do livro,
mas você terá vivido um pouco,
e talvez, aprendido um bocado.
Não sei onde se aprende mais,
se na troca que estabeleço entre a página de fibra óptica e a cadeira de madeira,
ou se entre o meu olhar que se perde na imensidão das coisas vagas da cidade,
mas desafafo:
Sabe, gente...eu prefiro escrever poesia.
(T.C)

Tuesday, September 16, 2014

Num Rompante Poético.
Sem freio.
Desembestado.
Tentando registrar um pouco, 
aqui, 
os últimos dias.
Imersa.
Vislumbro uma atualização do mundo pré-socrático, 
onde a arte seja a mediação de tudo que é gente com o tudo que é o mundo. 
A poesia? Eixo precário que em mim resiste.



Manga,

Resolvi escrever isso, porque a vi, uma vez, debaixo duma árvore. 
Ela não percebeu minha presença. 
A moça chupava manga com os olhos fechados. O caldo da manga escorria dos pulsos rumo aos cotovelos. A moça chupava manga com os olhos fechados. O tempo parou dentro do gosto da polpa da manga.
Eu era menina.
Fiquei escondida num barranco.
Eu era boba demais para chupar manga daquele jeito.
Eu só sabia duvidar do gosto daquela manga.
Quando ela terminou aquele poema escrito com a língua alaranjada,
eu saí correndo mata afora.

(T.C)



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Aquele homem chamava por mulheres e cães, sempre assobiando.
As mulheres e os cães: um certo cansaço.
As mulheres seguraram o homem.
Seguraram o homem enquanto os cães comiam sua língua fresca num prato.
O cão nunca foi o melhor amigo do homem.
A mulher nunca foi o sexo frágil.
O assobio do homem virou um buraco na face.
O buraco na cara do homem.
O homem dentro do buraco da cara face.
O que faltou neste poema:
Antes do crime,
Cães e Mulheres,
pediram incessantemente
que
ele
parasse.

(T.C)



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O gato comendo a ave.
A ave inocente.
O gato cego de fome.
(ave maria para a ave tardia)
Miô-pia.

(T.C)



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Você compra tudo o que se ven-de.
E não percebe o que veM de você.
R$ 1,99 de carne para um corpo vende-dor:
Com
Pra
Quem?

(T.C)




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Tupi Manhãiê

Criê ã uh,
Ahãn hmm aiã.
Ui oi ai hmm õn.
Ah! Ah! Ah! Ah!
Nhan nhã. Tu nhã.
Hmm iô hmm aí
Xi hmm cá diê
Diê hmm diê tá,
Umá florá faúna flô.
Flô gotê manhãiê.
Gutê fulô.

(T.C)