Tuesday, January 27, 2015

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Poema para Celinas

Celina apanhou tanto da vida que rimava cama com cachaça e drama.
Divertia-se pouco: missa aos domingos.
Era uma chance de tomar um cálice de vinho sem culpa.
E comia óstia para conseguir perdoar a culpa de deus.
Era devota de Santa Bárbara,
e no dia da padroeira
aconteceu o milagre de Vossa Barbaridade:
João amanheceu gelado.
Morreu de bolo estragado.
Foi tarde.
Foi com deus.
Neste dia, Celina fez um refogado gostoso de óstia.
E comeu.
Pelo tamanho do sorriso, estava mesmo no paraíso.

(T.C)
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Pinga pingo d´água até formar um rio.
Demora e armazena palavra miúda em gota.
Nada no nada, forma o disforme, canta a tromba d´água...
e dentro da tromba d´água lateja um elefante, mas transparente.
Sobre os telhados solfeja insólida e por osmose vira cheiro de telha molhada.
Chora janela, escorre pilastra, gozam em frenesi as gramíneas, deflora a flor em orvalho.
Lampeja a voz imperatriz da chuva num berro uivoso de raio.
onde tudo úmido
onde tudo súbito
onde desmaia o sol.
Pessoa na chuva é ilha.

(T.C)

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Monday, January 26, 2015


Os corpos farão a opção entre o moralismo e o tesão.
Os moralistas só observarão.


(T.C)
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Pulava corda,
Acordava cedo,
- relógio de corda -
Um dia foi para a cordilheira
e fez um acordo consigo.
(lá, sonhava acordado)
Dois acordes:
E acordou violeiro.

(T.C)

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Antropo-fálica
Pedaço de pele viva.
Quero.
Até cuspir o osso.
Até cansar a derme.
Até nem sei palavra.
Até despedir.
Até bem depois de despir.
Eu vou comer você.
De glúteos.
De-glúteos-ter.
Deglutir.


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Pina prefere ser só um subtítulo.

E então, Pina fechou os olhos como duas conchas.
Dormiu pérola.
Sonhava polifônica.
Eu a ouvia resmungar,
Não era coisa para entender.
Sei que Pina acordou porque as conchas se abrem
e ela torna a caminhar.
Fala pouco, e com os olhos parece conversar com objetos
com trechos de música,
com insetos,
com retalhos de tecido.
Pina mistura sonho com realidade
não sabe mais onde está a maldita emenda.
É como um rolinho, desses, de durex
onde a gente não encontra mais a ponta.
Pina colada.

(T.C)

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Poema in
ver
tido.
In
ver
tudo
color
ido.
Tudo
3D
Tudo
D3
(.oduT)
Sen
(.odiT)




(T.C)

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Sabia dar nó em gravata como ninguém.
Enforcou o marido no nó amor*tecido.
Tecido cetim
cetinha razão.
Velório ás cete.
Com cê e com esse.


(T.C)

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Quando a tarde caiu
meninos nus
dançavam
chamando

dia.
Mas veio a noite
este tolerável recreio
sem açude
sem cuspe
sem .pingo.
E da sede que sentiam
o milagre do choro
rolou pedra abaixo
regando uma natureza
morta.

(T.C)

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A bailarina de plástico da nossa caixinha de música, dançava staccato na ponta dos nossos ouvidos.
                                                                                                         
(T.C)


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Se me ama, deixe-me livre
Aplainada no teu desejo
quando bater aquele vento
mais brando e quente
(voando encontros nossos)
Ganhe tempo reparando o movimento das plumas,
pétalas,
lesmas,
espécies de insetos voadores.
Se me ama,
Bem-me-quer o pólen.
Orvalho no galho.
No galho pasmo.
Orgasmo.
(T.C)

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Gíria de Pomba.

Pum! Bá!
(Olha a marcação)
- Agora gira!
Pá! Boom!
Toca macumba!
O cú pa a cidade!
Foi Lia ou foi leão
Vem no re-pique!
Pom! Bá!
Pom! Bá!
Pom! Bá!
Gíria!
Quem quer carne minha
tem que pedir meu aval
Toda mulher é rainha da bateria.
(Bateria surreal)
Responde aí dona Maria:
Você bateria
em homem folgado
que assedia rainha dançante
em pleno carnaval?
- bateria! Bateria surreal!
(T.C)

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Putas O-várias

Remetente: Thaiz Cantasini
Destinatária: Nina Caetano
Lendo o conto pornográfico dela
e já ciente que ela gostaria que eu o comentasse,
uma dessas minhas putas hospedeiras
resolveu sentar bem em cima dele,
letra por letra,
primeiro devagar e sem pressa,
depois elétrica
e
des
ca
be
la
da,
depois com dois catatônicos O.lh.O.s
Abruptamente congelados no foco da penteadeira de um quarto imaginário de bordel
(bordei um boldel degustando as palavras dela)
A personagem desfigurada
Vezes ela,
vezes Iansã,
vezes todas,
vezes eu,
Borrifava seu gozo e o gozo dos caralhos
em toda puta que toda mulher já nasce sendo
mas
não
sabe
ou
prefere
não
TOCAR
no assunto.
O desenho do teu conto é reto e preciso.
Teso.
Geométrico como um maxilar.
Rebento sintático de aspereza cálida.
Um tiro.
Tiro à queima roupa.
Metralhas assim:
incisiva e mundana
porque escreves
"coberta
por
carne
quente"
(ponto)


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Ele é de poucas palavras
fala rindo de si.
O que ele não fala, ele mira.
Mira bem dentro,
aqui.
O coração dele é roxo.
O meu é carmim.
Ele revelava segredos
num tom verde-capim
Eu rolava na grama dos segredos dele,
tão solta,
tão rindo de mim.
O coração dele é roxo.
O meu é carmim.
Rindo de nós em nós
num laço mal-dado,
num café esquentado,
porque nós
nus gostávamos
assim.
Pausa - E desfoco dessa poesia, bem atenta:
Na grama dos segredos dele,
enquanto ele falava e eu escrevia
nascia uma flor JAZZ-mim.

(T.C)


Friday, January 23, 2015

Como plantar um mar em Minas Gerais:

Junte conchinhas de lá prá cá,
coloque em terra fértil,
adube com sal,
regue com espuma.
E, então, terás um mar azul de saudade.
Aguarde as flores violetas de anis.
Colha.
Tome este suco de olhos fechados e ao vento.
Os olhos podem,
durate esta operação,
até marejar.
Ai, que saudades de Búzios.



(T.C)
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Fobia, irmã de Fábia.
Fábia: sábia
Fobia: sempre abraçada ao vaso de calêndulas.
(Um sabiá contou que as mãos de Fobia estavam sempre trêmulas).
Fábia não sabia nada sobre flores.
Fábia, tantas dores.
Fobia, tantos impossíveis amores.
Até o dia do abraço,
(20 anos sem abraçar)
Cenario-feição:
Fábia, tão cálida.
Fobia, tão pálida.
Cenário-palavra:
- Fobia, venha ver o sol...
- Fábia, sente minha temperatura...

E na fotografia que guardo das duas
ainda, assim, tão aninhadas.
Fobia abraçada ao vaso de calêndulas...
fez da irmã, sua flor preferida.
Entendeu a vida.
E Fábia soube que,
até então,
nada sabia.

(T.C)

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