Tuesday, January 25, 2011

Vendo a menina crescer

Vendo a menina crescer,
Com seus dois olhos de bola de sinuca.
Ontem ela cabia aqui.
Agora não cabe mais neste verso inteiro.
Vendo a menina crescer,
Guardando as roupas que não servem mais,
e colecionando seus sapatos.
E quando ela chora,
A gente também chora um pouco desse orvalho todo.
O que se aprende vendo a menina crescer é intransferível...
É como essa sabedoria do povo do sertão:
a sabedoria que se adquire comendo um pacote de sal:
duas pitadas por dia
Estou vendo a menina crescer.


(Thaiz Cantasini)

Sunday, January 23, 2011


Profundidades

Moro numa arte feita de entrelinhas, num grande bazar de intangíveis.
A preciosidade disso está em não dizê-lo.
Se tento dizer, tudo se dissipa.
Existe um lugar em que a palavra é uma negligência.
(E eu tenho amado isso. Amado isso. Isso)
Enquanto isso, minha menina crescendo e brincando.
(Quintal dentro e fora de mim)
Meu vulcão, meu lápis de cor escarlate.
E eu aqui, rutilante: contemplo.


Thaiz Cantasini
(05/12/10)
Sete Copas

Sentou no canto da cidade
rua, calçada, ponte, ponto.
Quis conhaque, gelo não.
Pediu também uma morena:
vaga, crua, sua, preta.
Daquele dia: a da Estação.
E a estação não é verão
é chuva rala, coração,
nenhum tostão.
Sua cama é chão.

Baila comigo
na valsa da embriaguez, amor.
Me acorde bem tarde
E não tarde em dilacerar
a dor.

O chão é duro, tortuoso
acorda e o gozo está no corpo:
Saiu não.
E a morena vez faceira,
vez oásis, vez menina:
Não vem não.
É meia-noite na cidade,
meio-frio, meio-homem:
Meio-João.

Sete garrafas, sete copos,
sete corpos, sete copas,
bala, sorte, camburão.
E a morena vez faceira,
vez oásis, vez menina:
Era a imaginação.
Só foi verdade a pouca sorte,
o amor, a pinga, a dor
e a morte de um João.

Parta comigo na valsa da embriaguez, amor.
Me acorde bem tarde
E não tarde em dilacerar
a dor.


Thaiz Cantasini
(16/12/08 - 02:30h)