Saturday, March 21, 2015

Da dor e delícia de esvaziar-se:

Há muita beleza em ver uma coisa voar,
escapar das mãos outrora ansiosas.
Observá-la indo, dando as costas, de soslaio...
e sem aceno,
vê-la partir.
É um processo de des-consumo da coisa,
hora por hora,
até somar 24 horas por dia.
E amanhã, tudo de novo.
(E depois de amanhã, tudo de novo)
Trajetos de esperança desbotando.
E sorrio numa melancolia mansa:
Como se uma tela que pintei durante anos,
repentinamente,
amanhecesse
branca novamente.

(T.C)

Sunday, March 15, 2015

CARTA AOS SUICIDAS

Acefalia coletiva,
guerra cega.
Pensamento engessado. 
Afinidade por cabresto. 
E amigxs, mesmo que poucxs, aplaudindo essa merda toda.
Eu sinto dor. Dói o corpo todo: uma mulher segurando um cartaz escrito "feminicídio, sim!".
Um homem pedindo "intervenção militar, já"
Evangélicxs que não sabem que este estado é laico. Nazi-Verdeamarelice. O ódio na cara, ali, estrebuchando. Vocês estão dando um tiro no pé.
Guerra contra si mesmx, negligência com o próprio corpo e um pedido por maus tratos.
Querem a volta do dever sobre o direito.
Pá Nela
pá na minha cara
Pá nela
Pá na liberdade
Pá nela
Pá na história do Brasil.
Pá nas minorias.
Pá, pá, pá, pá!
Suicidas.

Friday, March 13, 2015

.
E daí fazíamos do amor só mais um emblema esgotado. A gente queria mesmo era transar. Amávamos assim. Olívia e eu não estávamos preocupadxs porque estávamos mesmo era pré-ocupadxs. A gente refez a etimologia de quase todas as palavras crentes que o amor repetia. Fundamos um partido pluriafetivo e despedaçado. Porque combinava com a gente. A bandeira do partido foi Olívia quem propôs rasgando a saia de chita numa cerca de arame farpado. Metade prá cerca, metade da bunda dela de fora, metade da grama verde que fumávamos, e metade meu. Tomávamos groselha gelada no Bar do Geraldo e brindávamos o sagrado pacto de sangue doce. Dava um tesão danado.

(T.C)





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Conclusão da terra quando chove:
A existência da flor comprova uma espécie de poética da fertilidade.

(T.C)

Sunday, March 01, 2015

Eva é uma menina massa.
Faz poema,
pula amarelinha,
faz muito carinho,
mas também faz pirraça.
Se a mãe esperneia junto,
Eva fica sem graça.
Pirracentas em devir:
tem como corrigir?
Verdade seja dita,
A birra é um problemaço.
Mas depois da conversa,
vem aquele longo abraço.
_ Mãe, você me ama?
_ Amo além do sideral espaço.

(outro abraço)

(T.C)

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A vida segue
uma costura
mas não tem linha,
nem tear de madeira.
Conta-se o tempo,
os panos mudam de cor,
desbotam-se ali, aqui, acolá.
some retalho e morre muita fibra.
Alguns trapinhos guardo,
nada mais.
Descostura-se ali,
emenda-se de lá,
troca-se para transformar.
A vida: um por um,
uma por uma.
É a gente o tal do tecido.
Tece-se à mão e a labuta que se faz é só. Ela é assim.
Não queira o tecido que não é teu.
E cada um dá o que pode
para viver tapetes,
lenços,
dermes
Tece, tece, tece, tece:
Molha o teu pano de choro.
Seca teu pano ao sol do teu riso.
Viver é dedicação.

(T.C)